O Programa Saúde da Família e a Saúde Ocular

Retirado do livro: Prevenção da Cegueira na Infância. 60ºCongresso . Bras. De Oftalmologia- Goiânia-GO. Relatoras: Andrea Zim e Keila Monteiro de Carvalho. Editora Cultura Médica- 2016

Publicado por: WV Comunicação e MKT em 28/05/2017

O Programa de Saúde da Família (PSF) é uma estratégia de saúde pública adotada pelo Ministério da Saúde do Brasil desde o ano de 1994. Seu propósito principal é o fortalecimento da atenção básica, através de uma aproximação dos serviços de saúde com o indivíduo inserido na família e na comunidade (1,2). A Saúde da Família passou, desde então a ser entendida como um plano de reorientação do modelo assistencial, tendo sido operacionalizada mediante a implantação de equipes multiprofissionais em unidades básicas de saúde (1).

A assistência oftalmológica na atenção básica deve explorar ações de promoção e prevenção de agravos que permitam a identificação e o acompanhamento das famílias e dos indivíduos, dentre essas destacam-se: as ações educativas , a aferição da acuidade visual, consultas oftalmológicas e de enfermagem, prevenção e diagnóstico de afecções de repercussão ocular como diabetes e hipertensão, e o devido acompanhamento dos usuários do sistema (3).

Neste cenário, os cuidados em oftalmologia podem e devem ser promovidos em conjunto com as equipes de saúde da família, buscando melhorar a saúde ocular daquelas populações com dificuldade de acesso à especialidade e promover educação em saúde ocular. (4) Faz parte do desenvolvimento deste programas o reconhecimento dos problemas da saúde ocular da comunidade, e sobretudo a elaboração de estratégias factíveis e viáveis economicamente para a solução daqueles problemas encontrados (5).

Os cuidados com a saúde visual na infância iniciam-se no período pré natal. O criterioso acompanhamento materno diminui o risco das maiores causas de cegueira infantil no Brasil, como retinopatia da prematuridade e toxoplasmose, além de buscar a identificação de doenças como rubéola e sífilis, dentre outras (6). No período pós natal, o teste do olhinho, realizado pelo pediatra ou médico da família, é a primeira ferramenta prontamente empregada capaz de realizar uma triagem inicial. Na identificação de qualquer alteração no reflexo vermelho deve-se buscar o auxílio imediato de um médico oftalmologista. A identificação de defeitos refracionais em crianças pré-escolares e escolares é outra ação fundamental, já que a maior parte da cegueira na américa latina é tratada com a correção refracional por meio de auxílio óptico, influindo diretamente na qualidade de vida da criança e no seu desenvolvimento psicossocial(7). Ressalta-se que a “busca ativa” de problemas refracionais pode ser feita pela medida da acuidade visual praticada no Núcleo da Saúde da Família (NSF), o que pode identificar casos que precisam de uma avaliação especializada.

O desequilíbrio entre as condições sociais, o acesso ao atendimento clínico e a dificuldade na realização de avaliações, exames e procedimentos impostos pela fragmentação do sistema de saúde, resultam em generalizada insatisfação, atraso diagnóstico, e desperdício de recursos financeiros (8). A dificuldade em conseguir um atendimento oftalmológico influencia , por sua vez, a composição do perfil da saúde ocular, independentemente do grau de desenvolvimento econômico da região. Populações onde obstáculos mais robustos são impostos, sejam eles geográficos, culturais ou econômicos, estão mais susceptíveis a apresentarem piores condições de saúde ocular (9).

A atuação de oftalmologistas em proximidade com unidades de atendimento comunitário, serviria como uma ferramenta de transmissão de conhecimento e educação em saúde, tanto capacitando os profissionais locais, quanto aperfeiçoando as atitudes diárias da equipe relacionadas à promoção de saúde ocular (4). Uma vez que profissionais da atenção básica possam desempenhar e prover os cuidados com a visão de forma mais hábil, naturalmente, diagnósticos mais precoces e precisos são realizados, além de possibilitar ações direcionadas para a prevenção e o tratamento adequado das afecções oculares mais relevantes, medidas que podem influenciar positivamente o cenário em questão. (4)

Referências
1. CHIESA AM, FRACOLLI LA. O trabalho dos agentes comunitários de saúde nas grandes cidades: análise do seu potencial na perspectiva da promoção da saúde. Rev Brasileira Saúde Família; v. 7, p. 42-9, jan. 2003 a abr. 2004, edição especial.

2. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Análise de Situação de Saúde. Uma análise da situação de saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2004.

3. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria 288 de 19 de maio de 2008. Define a composição das redes estaduais e regionais de atenção em Oftalmologia. Brasília.2008.

4. CADE JORGE F. Validação de propostas de educação em saúde ocular comunitária aplicadas a profissionais de saúde em centros de atenção primária [Dissertação]. Ribeirão Preto (SP). Universidade de São Paulo, 2010.

5. KUPFER C. Worldwide prevention of blindness. Am J Ophthalmol 1983; 96(4):543-5.

6. BRITO PR, VEITZMAN S. Causas de cegueira e baixa visão em crianças.ArqBrasOftalmol 2000; 63(1).

7. VERDAGUER TJ. One world, one voice, one vision. ArqBrasOftalmol1998; 61:5-6.

Autoria: Fabiano Cade
Graduação em Medicina - Universidade Federal do Espírito Santo
Residência e Mestrado em Oftalmologia - USP/RP
Doutorado em Oftalmologia - UNIFESP 
Especialização - Harvard Medical School